Medicamentos benzodiazepínicos: o que são, quais são os benefícios e quais são os perigos? (2023)

Os benzodiazepínicos são uma classe de medicamentos já bastante conhecida da indústria farmacêutica e dos consumidores devido ao potencial dessas drogas como ansiolíticos, hipnóticos, tranquilizantes, anticonvulsivantes e até mesmo relaxantes musculares. De janeiro a outubro de 2021, foram mais de 1,4 milhão de unidades vendidas só no Ceará. Nacionalmente, o número ultrapassa 41,5 milhões, segundo dados abertos sobre vendas de medicamentos industriais nos Estados UnidosSistema Nacional de Gestão de Produtos Controlados (SNGPC).

O POVO+ analisou a série histórica de 2014 a 2021 abrangendo os meses de janeiro a outubro de cada ano, com base nos dados do SNGPC disponíveis no Portal de Dados Abertos do governo federal. Os meses de novembro e dezembro foram excluídos por decisão da Diretoria Colegiada (RDC) que afetou a finalização do sistema e resultou na diminuição dos registros a partir de novembro de 2021. O objetivo da análise foi entender as flutuações nas vendas de 11 ingredientes ativos: alprazolam, bromazepam, clobazam, clonazepam, cloxazolam, diazepam, lorazepam, midazolam, clordiazepóxido, flurazepam e estazolam.

Na série histórica analisada, o pico de vendas desses medicamentos foi em 2017, quando foram comercializadas 43,4 milhões de unidades no país, mas entre 2014 e 2021, as vendas permaneceram altas nesses meses do ano, ultrapassando 37,4 milhões. . No banco de dados, caixas ou frascos são considerados unidades de medicamentos.

Medicamentos mais usados ​​no Brasil de janeiro de 2014 a outubro de 2021

Quando usados ​​corretamente, esses princípios ativos são aliados no tratamento de diversos problemas relacionados ao sistema nervoso. Isso porque eles auxiliam a ação do ácido gama-aminobutírico (GABA), que é um dos principais neurotransmissores inibitórios do sistema nervoso central. Isso evita a excitação excessiva do sistema nervoso e reduz os sintomas de ansiedade, por exemplo.

No Ceará, as vendas de benzodiazepínicos atingiram o pico em 2018, com mais de 2,8 milhões de unidades vendidas. Três anos depois, em 2021, as vendas caíram 49,9%. Entre os mais vendidos para a população cearense neste período estão o Rivotril (clonazepam), o Frontal (alprazolam) e o Lexotan (bromazepam).

Venda de benzodiazepínicos no Ceará entre 2014 e 2021

Por outro lado, a automedicação pode ser prejudicial à saúde, além do uso recreativo ou indevido dessas drogas. "São bons remédios quando bem indicados, quando usados ​​por um período adequado às necessidades do paciente", diz Mirian Parente, professora do curso de farmácia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenadora do Programa de Prevenção ao Abuso de Drogas Grupo.

“Você não deve tomá-lo sem real necessidade. Apesar de ser uma droga controlada, a sociedade foge de muitas questões legais. Você ouve relatos de que pegou [o medicamento] do seu tio, avô, amigo e também está tomando, alguém que eu conheço prescreveu para você”, diz Mirian.

Medicamentos mais comprados no Ceará entre 2014 e 2021

A farmacêutica explica que o uso prolongado pode prejudicar a memória devido à ação dos princípios ativos no hipocampo, parte do cérebro envolvida na aquisição de novas memórias. Além disso, em altas doses ou misturado ao álcool, que também inibe o sistema nervoso central, pode causar depressão respiratória e até coma. Essas drogas também podem ser viciantes.

DepoisPharmakologisches Meldesystem Anvisa, VigiMedPelo menos 522 eventos adversos suspeitos relacionados a medicamentos foram registrados no Brasil de janeiro a outubro de 2021. O número é 97% superior ao de todo o ano de 2020, com 264 denúncias. Em 2019, foram contabilizados 104 eventos adversos no sistema.

A Anvisa alerta que a suspeita não pode ser utilizada para fornecer indícios da probabilidade de ocorrência de um evento adverso ao uso de medicamentos, mas apenas para registrar a presença, frequência e gravidade dos efeitos.

Medicamentos são usados ​​no início do tratamento da ansiedade.

A analista de mídias sociais Lia Bruno, 26 anos, começou a tomar alprazolam para tratar ansiedade e depressão. Mas com o diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e tomando outra medicação, os efeitos colaterais dificultaram para ela, de modo que os especialistas que a acompanhavam trocaram a medicação por clonazepam.

“Em 2021, um neurologista me diagnosticou com TDAH tardio com a ajuda de um psicólogo. Ela está comigo há um longo tratamento para enxaqueca e finalmente notou alguns sinais nas avaliações cognitivas. Depois disso, comecei o tratamento com Ritalina”, conta.

O clonazepam foi usado no caso de Lia porque era uma droga de ação rápida que aliviava os efeitos colaterais da Ritalina. "Também me ajuda a me sentir mais relaxado e menos tenso, o que facilita o foco", diz ele.

A psiquiatra Lia Sanders explica que esse uso é generalizado. "Quando o paciente reclama de insônia enquanto os antidepressivos não estão fazendo efeito, quando precisam de um efeito mais rápido, associamos os benzodiazepínicos nessas situações", diz.

Segundo Sanders, o uso inicial de benzodiazepínicos visava o tratamento de convulsões. No entanto, o uso clínico e a pesquisa mostraram que eles também atuam como ansiolíticos.

“Mas houve alguns estudos que sugeriram o uso a longo prazo e o risco de demência na velhice. Isso mudou um pouco a maneira como as pessoas olham para essas drogas”, diz ele. Com o tempo, surgiram outras drogas que eram "mais úteis a longo prazo" e agradaram os psiquiatras para o tratamento de pacientes.

Zolpidem: 2021 teve o maior recorde de vendas desde o Brasil em oito anos

Com os efeitos na memória e nos casos de dependência, os benzodiazepínicos têm sido menos prescritos para tratar a insônia. A partir da década de 1990, outro hipnótico, o zolpidem, ganhou popularidade. Nos últimos anos, as vendas da droga dispararam no Brasil. Na série histórica entre 2014 e 2021, o medicamento foi vendido 261,63% a mais. O número total de unidades do medicamento vendidas em todo o país subiu de 3,87 milhões para mais de 14 milhões.

Dentre os estados onde o consumo de zolpidem foi maior, destaca-se o Rio Grande do Norte com taxa de 28 unidades vendidas por 100 habitantes no período de janeiro a outubro de 2021. É mais que o dobro do Distrito Federal, que ficou em segundo lugar com odds de 12,5. O Ceará está entre os estados com menor índice de vendas por 100 habitantes: 3,5.

Este medicamento não pertence à classe dos benzodiazepínicos, embora também atue sobre o ácido gama-aminobutírico (GABA). Segundo Stela Rates, membro da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE), o zolpidem atua em diferentes receptores biológicos.

“Então eles não agem na ansiedade, eles agem principalmente como indutores do sono. No entanto, podem apresentar efeitos adversos importantes e seu uso deve ser prudente e feito sob prescrição e supervisão médica”, comenta. A droga também pode ser viciante.

Com a popularização, tornou-se comum ver postagens nas redes sociais de pessoas tomando a droga e acabando fazendo ou dizendo coisas incoerentes que ao acordar só são descobertas através de logs de texto, vídeos ou relatos de pessoas próximas.

A professora Mirian Parente explica que tanto os benzodiazepínicos quanto o zolpidem podem causar amnésia, o que torna as pessoas incapazes de lembrar o que aconteceu antes e depois da droga fazer efeito. “Quando o médico prescreve, ele fala para você tomar na cama, em casa, antes de dormir. Porque alguns têm um início de ação muito rápido”, diz ele.

Mirian também adverte que os jovens também devem procurar maneiras não medicamentosas de lidar com a insônia.

"Do ponto de vista fisiológico, eles têm todos os pré-requisitos para induzir sono suficiente que, por exemplo, os idosos não têm", diz ele. Além do tratamento medicamentoso, hábitos como não usar aparelhos eletrônicos antes de dormir, praticar exercícios e ter uma alimentação saudável também são formas de lidar com o problema.

metodologia

Neste relatório, o POVO+ utilizou os dados de vendas de medicamentos industriais do Sistema Nacional de Gestão de Produtos Controlados (SNGPC), disponíveis emPortal de dados abertos do governo federal, É assim que éProgressão da população municipal com base nos dados do censo demográfico de 2022coletados até 25/12/2022, fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A série histórica de 2014 a 2021 foi analisada considerando os meses de janeiro a outubro, uma vez que a resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 586/2021 suspendeu temporariamente as condições previstas na RDC nº 22 de 29 de abril de 2014 a utilização do SNGPC por Farmácias e Drogarias para registro de medicamentos e insumos farmacêuticos. Com isso, houve queda nas inscrições a partir de novembro de 2021.

O mês de julho de 2020 estava ausente da base original quando os dados foram coletados. A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e enviou uma notificação do erro por meio do Portal de Dados Abertos, mas não houve mudanças até a última consulta.

As substâncias ativas classificadas como benzodiazepínicos foram selecionadas do livro "Pharmacology Illustrated" e da lista disponível.neste trabalho científico. Consulte também a lista deAnvisa-Referenzmedicamente.